
DESAFIOS SAZONAIS
O combate à seca pelas instituições ambientais do DF
pós o período da estiagem ter passado, a avaliação que a grande maioria da população faz é que a seca foi devastadora. Afeta diversas áreas, uma delas é o Cerrado, que sofre muito mais do que apenas com a seca, como por exemplo com a poluição causada pelo homem e também os incêndios, tanto naturais, quanto pela imprudência humana. Reservas biológicas são áreas destinadas à preservação e conservação da fauna e flora do ambiente. Nossa equipe abordará nessa reportagem duas das cinco reservas do Distrito Federal que sofreram devido à seca.
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Reserva Biológica da Contagem localiza- se próxima à cidade satélite de Sobradinho e, segundo a equipe do Instituto Chico Mendes de Biologia (ICMbio), cobre uma área de aproximadamente 3.500 hectares. A reserva foi criada em 13 de dezembro de 2002 em decreto assinado pelo então presidente da Republica em exercício, Fernando Henrique Cardoso. Por meio da assinatura foi estipulado que imóveis ou propriedades particulares passariam a ser de utilidade pública e entrariam em processo de desapropriação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) seria o responsável por administrar a Rebio e todas as propriedades de terra da união seriam destinadas à proteção ambiental. Todas os implementos e informações contidas no decreto podem ser conferidas no site do ICMbio.
Problemas na Contagem
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Leonardo Lopes
72 anos
O processo de desapropriação de terras ainda não foi concluído e um dos vários proprietários da região, Leonardo Lopes, de 72 anos falou um pouco sobre sua propriedade e a relação com a reserva. Segundo ele, a reserva não contém nenhum tipo de vigia ou guarda responsável por cuidar da área e que, como a propriedade dele é caminho para uma pequena cachoeira, pessoas entram e saem sem controle algum por parte da administração da Rebio, resultando em muito despejo de lixo próximo à cachoeira e até mesmo focos de incêndio.
Leonardo relatou que no início do mês de novembro um grande incêndio tomou conta de sua propriedade, queimando parte da vegetação. Afirmou que o fogo foi tão intenso que quase invadiu a residência onde vive com a família. Confira o áudio.
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Leonardo disse ser dono da propriedade há mais de 30 anos e suspeita que a área de sua terra tenha sido de exploração há muitos anos atrás, ele assegurou que existem muitos tesouros escondidos por ali, já que supostamente sua terra fora caminho das expedições das entradas e bandeiras no período colonial. Segundo ele, uma vez que a área foi decretada como de preservação, não tem permissão para construir ou fazer qualquer alteração ou extração na propriedade.
Nossa equipe entrou em contato com o instituto Chico Mendes para averiguar as informações cedidas por Leonardo. O chefe da Área de Proteção Ambiental do Planalto Central, Grahal Benatti, afirmou que a reserva sofre constantemente com a seca, poluição, incêndios e até mesmo com invasões e caça. “A seca não é propriamente um problema, mas uma condição climática normal do Cerrado. Entretanto, como este ano a seca foi mais intensa do que a média histórica, os efeitos são maiores.” Segundo ele o ICMbio combate ativamente todas essas situações dentro das condições possíveis de recursos e também pessoais.
“A seca não é propriamente um problema, mas uma condição climática normal do Cerrado. Entretanto, como este ano a seca foi mais intensa do que a média histórica, os efeitos são maiores”.
- Grahal Benatti
Grahal afirmou que existem aproximadamente 60 propriedades particulares que estão em fase de desapropriação, e desconhece a precisão da área afetada pelo incêndio citado por Leonardo “Não consigo definir onde ocorreram os incêndios, houveram sim incêndios na Rebio mas não tenho noção da área queimada.” Ele comentou também sobre o fato da Rebio não ter nenhum tipo de vigia ou guarda, existem algumas rondas fiscalizadas pela equipe do ICMbio, mas não são muito frequentes e isso se deve ao fato, pelo que ele nos explicou, do baixo orçamento do ICMbio não ser capaz de sustentar um grande número de vigilantes, pois como a reserva contém inúmeras entradas o número de vigilantes necessário seria muito grande.
Sobre a questão da exploração, Grahal disse o seguinte; "As explorações minerais ocorreram antes da criação da reserva. As minerações eliminam a camada fértil do solo, dificultando a regeneração da flora. Há registros de mineração no DF com mais de 50 anos que são um vazio de vegetação. Para recuperar a área é necessário um projeto de recuperação, que é caro. Não há atualmente minerações na reserva, nem é possível legalmente. Caso ocorra, a fiscalização do ICMBio irá coibir o crime e tomar as providências legais."
![]() Lixo próximo a Reserva da Contagem | ![]() Lixo próximo a Reserva da Contagem | ![]() Lixo próximo a Reserva da Contagem | ![]() Lixo próximo a Reserva da Contagem | ![]() Lixo próximo a Reserva da Contagem |
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José Luciano Zeferino também é um proprietário da região, mas, diferentemente do caso de Leonardo, as áreas ocupadas pelas terras dele não são pertencentes à reserva. Segundo José, algumas das fazendas vizinhas (inclusive a dele) receberam a visita do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e ficou definido a elas que uma pequena parte de suas terras, seriam destinadas à preservação, logo não poderiam construir, modificar, plantar ou extrair nada no que ficasse demarcado como área da reserva. Ele disse ainda que paga mensalmente uma taxa referente à propriedade, pois sua terra é de uso particular e não da reserva, como apresentado no caso de Leonardo.
Incêndio no Jardim Botânico
s problemas ocasionados pelas queimadas não é novidade no Cerrado. Em outubro tivemos como exemplo o enorme incêndio florestal ocorrido na Chapada dos Veadeiros que destruiu cerca de 5 mil hectares de sua área. E no Distrito Federal os focos de incêndio atingem vários pontos em parques ecológicos e ambientais.
Dentre esses parques que são atingidos, estão o Parque Nacional de Brasília, a Chapada Imperial, a própria Reserva Biológica da Contagem, o Lago Oeste e o Jardim Botânico de Brasília (JBB). E entre um dos mais prejudicados pelas queimadas é o Jardim Botânico. Inaugurado em 9 de março de 1985, tem uma área com cerca de 5 mil hectares, uma fauna que possui 77 espécies de marsupiais, roedores, e morcegos, 257 espécies de aves, 73 espécies de lagartos, serpentes, tartarugas e anfíbios, e sua flora que contempla mais de 1337 espécies de plantas, árvores e vegetações que são representadas por quase todas as existentes no Cerrado. A vegetação do Jardim Botânico também está presente em outros locais, dentre eles o Jardins Mangueiral, São Sebastião e o Lago Sul.
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A estudante Bárbara Gadioli, 20 anos, mora no Jardins Mangueiral e presenciou uma queimada que ocorreu há pouca distância de seu condomínio em meados de outubro (imagens da fumaça logo abaixo). "Estava em casa estudando e senti um cheiro muito forte de coisa queimada. Primeiramente, achei que fosse dentro de casa, até que percebi que era do lado de fora. Na frente da minha casa tem um muro, e atrás dele apenas vegetação e um prédio bem distante, mas acho que o fogo não chegou nesse prédio. Com o passar do tempo ele foi se apagando sozinho, não teve nenhum bombeiro para ajudar, ele foi se dissipando.’’ Informou Bárbara.

Bárbara Gadioli
20 anos

Nesse caso, não foi necessária a ajuda dos Bombeiros. Mas a própria administração do Jardim Botânico conta com a Brigada de Combate a Incêndios do JBB, formada por servidores voluntários e treinados.
Eles passam anualmente por um curso ministrado pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), e trabalham em conjunto com as brigadas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Fazenda Água Limpa (FAL), e do próprio Corpo de Bombeiros.
Além desse esforço próprio, o JBB trabalha em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal de São Carlos, e juntos desenvolveram um aplicativo para alertar focos de incêndio chamado ‘’DF100FOGO’’, que tem a intenção de fazer com que a população participe na ajuda e manutenção das unidades de conservação presentes.
Para também auxiliar na proteção de sua fauna e flora, o Jardim Botânico possui a Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília (EEJBB), que além de cuidar das diversas espécies de plantas, animais e vegetações, protege também mananciais que abastecem cerca de 25% de toda a região do Lago Sul, incluindo o Lago Paranoá. Em decorrência dessa importante função, ele também abriga uma unidade de tratamento de água da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB). E apesar de toda a crise hídrica enfrentada pelo DF ao longo de 2017, resultando em seca e racionamento para a população da capital, ainda foram encontrados casos de captação irregular de água dentro da Estação Ecológica.
Em entrevista realizada com a Superintendência Técnico-Científica do Jardim Botânico de Brasília, nossa equipe perguntou sobre as funções e dificuldades enfrentadas pela EEJBB. "A função da Estação Ecológica é preservar e conservar a biodiversidade do Cerrado bem como preservar as nascentes e cursos d'água existentes em sua área. Enfrentamos dificuldades muito pela sua localização em meio a malha urbana, que causa uma série de problemas entre as quais destaco: incêndios florestais, lançamento de lixo em suas bordas, atropelamento de animais, entrada de espécies invasoras, invasão por pessoas desautorizadas." Nos informou a Superintendência Técnico-Científica do JBB.
"Enfrentamos dificuldades muito pela sua localização em meio a malha urbana, que causa uma série de problemas entre as quais destaco: incêndios florestais, lançamento de lixo em suas bordas, atropelamento de animais, entrada de espécies invasoras, invasão por pessoas desautorizadas".
O Jardim Botânico pode ser considerado um local nobre no Distrito Federal, com condomínios luxuosos e áreas comerciais de grande captação financeira, mas também possui uma grande estação ecológica que se pode visitar para passeios, piqueniques e pequenos eventos. Apesar de toda a interferência humana negativa, que causa impacto em sua fauna e flora, a própria administração do EEJBB vem mostrando bons exemplos de como gerir com responsabilidade e modernismo uma rica e vasta rede ambiental.
Por quê "Contagem"?
A área da Reserva biológica da Contagem é rica quando se fala de vestígios históricos. Além de registrar a presença de objetos supostamente feitos pelo homem pré-histórico e três sítios arqueológicos, o local traz sinais do Brasil Colonial. Dentre os séculos 18 e 19, durante o ciclo de ouro, constatam-se que haviam dois postos fiscais (aduanas) erguidos com paredes de adobe (tijolo cru).
Hoje trecho da rodovia DF-001, a antiga Estrada Real da coroa portuguesa, que ligava Goiás ao litoral baiano, era passagem obrigatória para os bandeirantes. Portanto, os escravos e mercadorias trazidas, em sua maioria de Pirenópolis-GO sofriam um certo tipo de fiscalização. O ouro era então contado para a cobrança de impostos (quinto e derrama). Daí a origem do nome da Rebio, “Contagem”.

O Cerrado pede socorro
As queimadas no Cerrado acontecem com frequência, algumas causas são tocos de cigarros jogados na mata, temperaturas elevadas e a baixa umidade relativa do ar contribui para o surgimento do fogo. As queimadas apresentam péssimas consequências para o bioma, pois ocorrem em grande proporção. Acarretando á perda da biodiversidade, ocasionando a degradação do ambiente. O solo passa pelo processo de erosão e fica menos propicio á recomposição da cobertura vegetal, causando redução da disponibilidade hídrica, prejudicando a fauna e a flora.


Direção
Daniel Oliveira
Luísa Lima
Reportagem
Andressa Braga
Felipe Augusto
Luiz Monteiro
Tacio Lorran